++ percepção lentamente valorizada do amor brasileiro agreste <:> rito ovariano onírico e negro :x: paixão e sociabilidade dionisíacas comungadas por dona deuSa (sílvia goulart) e o boi arteiRo (marcus minuzzi) <:> a verdade xamânIca da guerra apruma nossas corações antigos e dispostos a tudo contra o fascismo :x: poemas, análises, amores pictografados <:> elegia ao sertão artístico :x:
domingo, 20 de dezembro de 2020
há quem fuja da profundidade :: não é o meu caso :: invariavelmente estaco, na atenção a chamados das camadas invisíveis, imobilizado-atraído pelo ser profundo que quer minuciosamente demonstrar-se ::
leio então o ser submerso :: o faço aflorar por força da minha hora dedicada ao poço romÂntico em que se protege :: há quem fuja desses lençóis freáticos :: não eu ::
e se me evado, desejando a superficialidade, logo me sinto um outro, um reles brasileiro amargo, vítima da displiscência :: funcionário pouquíssimo aplicado das encostas poéticas desse país que, com suas musas, segredam coisas aos corajosos ::
detenho concessões para lavras maravilhosas, mas perigosas, cujo preço são maços e mais maços de flores ofertadas ao deuS perfeito das visagEns hospitaLeiras da alMa ::
O Natal chegando e o coração da gente começa a encher de amor e lembranças.
É dessa época que trago minhas melhores recordações. Minha mãe, hoje quase inconsciente, era mulher de luta. Para as festas fazia pães, bolachas, cucas e doces. Mas o cheiro do pão sovado feito com trigo colhido por nós, esse era mágico. Nos trazia a esperança de vida em movimento. Amor incondicional fabricado na labuta, no fazer da lida diária. Tenho gosto nessa herança que minha velha me passou.
Tenho gosto e compromisso sério com esse legado, com essa matriz de alimentar as pessoas. Hoje amassei pães. Um jeito amoroso de saudar a vida, que, afinal, anda sensível e doída para tantos irmãos e irmãs que sofrem com a pandemia. Vamos buscar força para enfrentar essa luta e brigar pela vida! Bom domingo
"Filho de Deus, Jesus, tenho amor por Vós, um gande amor por Vós. E saudade. Me cura. Me dá o Espírito Santo. Será que nunca mais vou dar conta de escrever uma poética? Meu braço dói, deve ser reumatismo. Será que fico velha sem fazer aquele vestido? Oh, gente, só tinha 40 anos quando escrevi esta queixa!" ((adélia pRado, "o homem da mãe sEca"
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
essas entidades são liGeiras, no panteÃo da umbanda :: preta velha sagrada que me desvela segrEdos :: esteve essa preta sob o jugo de são paulo, cafeicultor paulista :: presa preta, acorrentada, amarrada, violentada pelo trÂnsito e no asfalto, servindo a nós, misteriosamente, o povo :: usa um perfume, para que possamos nos interessar por ela :: está amarrando maços de flores agora, para colocar na mão das pessoas comuns da vida, moças, namoradas, namoradeiras esposas, que vivem nas brasileiras cidades :: preto umbandista, mão que bate tambor, para gerar com calor de suas palmas ideias boas nas cabeças da mocidade que habita nas brasileiras cidades :: rapazes, homens, pregações, homilias :: tambor, polirritimia, algoritmos, café, tudo o que se anima :: arruaça de boi :: ideias boas :: a população que come feijão :: a população em geral :: são ligeiros esses entregadores de paz e pão :: sábados, nos cultos da umBanda, feras mais dionisismos, entregas às santidades em culto pela natureza :: candomblé sagrado, uma unção :: mães guerreiras, genitoras com sobriEdade, obrigatórias, generosas, geradoRas, bondosas, louváveis, amantíssimas, prezadas, limpadoras, nem um pouco grosseiras ::
"A farinha era artigo de primeira necessidade, para todos, motivo pelo qual os
agricultores de capitanias como a de São Jorge dos Ilhéus foram obrigados por lei,
durante diferentes períodos da história colonial, a plantar somente mandioca para
abastecer Salvador e região metropolitana, pois a capital da província não dispensava
o artigo nem mesmo em tempos de conflitos ou de seca." >< Referências do Brasil colonial a partir do comer na obra de Gilberto Freyre
|\|::|\|: |\|:|
\|:|\|: ||:|\|:\|:
\|:|\|:
|::|\|: |\|:|
na simplicidade do dia a dia está
o sereno salvador ::
o que é simples amplia o céu ::
os fantásticos foguetes
lançados pelos norte-americanos
não vencem
o rito dos foguetórios nos
folguedos bem brasileiros
dos sertões gigantes agrestes ::
sendo o Brasil uma sensação
eterna de brinquedo ::
sendo o bRasil
algo que lembra sempre
a infÂncia em seu mais
etéreo segredo ::
>< marcus mINuzzi, o boi artEiro :.
arTearTe:: arTe
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
estou em pleno vigor mítico das minhas possibilidades, árvore antropológica voraz e erguendo-se ao infinito :: hoje, nem os pais, nem os prédios, atrapalham mais :: nem a sede por amor :: estou cabendo na palma da revolução, por amor ::: e o meu sangue, por amor, que sinto, cada vez mais mítico, por possuir capilaridades relacionadas a hinos de combustão e de uma certa violência agrária, agora é potÊncia, e não ameaça, é não ao horror necrológico, à hora marcada para morrer :: vejo na ponta desses cabelos hordas de camponesas, como numa ciência da terra, uma edafologia dos espíritos trágicos que aviam, como esquemas táticos, uma edafologia da governabilidade sobre o planeta a partir dos mortos plantados, da grande camada de matéria orgânica que nos dá sustenTo e organiza :: mortos que juntos nos governam, com seus méritos, fantasias e faíscas, ali, de onde se elabora e se expande nossa consciêcia mítica, numa impressão anciã ou eremita dos zilhões de vezes que a vida pululou por sobre o planeta :: e são coaxos de rãs que nos exaltam, como numa chuva do abismo tamanho de uma escala inteira geográfica, a sudeste, ou a leste, no intento do gozo das moças que sopram o vento, que são o vento :: e ali, na áfrica, cabeça do mundo, ouço do tudo, após buscar temperos no ocidente e olhos no oriEnte :: sou a zabimBa inteira festa, e estou disposto a governar para os generosos jovens que nos melhoram com suas votivas relações com o mundo e as potÊncias, sejam musicais, sejam eróticas, sejam passivas ou militarmente poéticas :: ((sobre se sentir forte e radiante a ponto de ansiar por estar com 80 anos de idade, jovem marcus, nessa escala poética, que vai das astronaves aos dinossauros, tempo, xangô mágico
"A questão do silêncio também pode ser estendida para um silêncio epistemológico e de
prática política dentro do movimento feminista. O silêncio em relação à realidade das
mulheres negras não a coloca como sujeitos políticos. Um silêncio que, por exemplo,
faz com que nos últimos 10 anos tenha diminuído o assassinato de mulheres brancas
em quase 10% e aumentado em quase 55% o de mulheres negras, segundo o Mapa da
Violência de 2015." >< djAmila riBeiro
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
o necessário isolamento nos faz perceber e reter, praticamente com as mãos, a partícula impossível, aquela que ninguém move ou é capaz de mover :: melhor lugar na memória do ser humano, tal permanência nos permite amar indistintamente, mesmo em um país como o bRasil, de cotidiano cada vez detestavelmente violEnto, fratura do ocidente amargo, para o qual estendo minhas mãos de pássaro, feitas de papelão, lata, entulhos :: partícula mágica, micrograma do mais puro alvor de dioniso, que obtenho :: alvuras mágicas, abrigo no brejo, a voz embargada pela beleza do vento, iemanjá mãe-deusa do mar, múltiplas feitiçarias :: graças a ti, mantenho-me indevassado no calor em brasa dessa massa ao mesmo tempo ferrenha, astuta e assassina, eu, que madruguei em porto alegre, e venha medrando pela internet, em seus monturos nitidamente vorazes e auríferos :: e a estupidez humana clássica se transforma numa palavra da bíBlia ::
>\\<
//<>\\>\\<//<>\\>\\<
//<>\\>\\<//<>\\>\\<
o devaneio cíclico, revelação :: olho aberto para a ecologia, imaginação :: concórdia, esperança, paladar aguçado em relação aos meios vivos, viventes, amorosos, desejosos, querentes :: um lago, na vida, habitação, relação entre os seres, quente, amnioticamente, amniótica, bolsa da mãe, olho vivo do lago :: : desejo de retorno ao lar ampliado, lago, casa, algo bonito, abrigo, abraço, abrigo ::
o sacrifício medeia nossa definição como seres humanos, mais que qualquer outro fato antropológico, pois sua capacidade principal de nos colocar em expedição gentil em direção ao outro restabelece conhecimentos, deixando-nos bem melhorados, como uma mesa bem posta, para apreciação, meus amigos de outra esfera, animais e plantas, amigos devoradores, que necessitam desse meu sentimento ::
filhos, sacrifício maior, viagem à direção noturna, porque desconhecida, de abandonar a si mesmo, obrigação parental fundante da maior de todas as distâncias a serem conquistadas, raiz do próprio navegante ::
a civilidade é um problema de amadurecimento humano em direção às formas maternas etéreas, fruto denso de escravidões :: voltar ao útero é encontrar deuS :: <<maRcus, boi arTeiro
Súbita rainha. Maria de Deus, Maria das dores, Maria das honras, Maria das mães. Maria das graças, Maria das pretas, Maria dos famintos. Marias somos. De todos os filhos e filhas, De todos os calvários, De todos os ventres. Livrai-nos, senhor, De todos os maus agouros. De toda sorte de padecimento junto ao pé do Criador. Acaricia meu pequenino rosto de menina, Veja onde a sua graça me tocou.
Mariazinhas... Enfeitadas de graças, Enfeitadas de carne, Enfeitadas de flor. Enfeitadas de espinhos, Enfeitadas de cruz, Enfeitadas de dor. A hora do amor, A hora profunda da dor... Filhos pari, Amores perdi. Meu corpo secou. Maria, levanta, A cruzada apenas começou. Maria da força, Maria da caça. Maria, acorda. Tua força, Teu pulso leviano, Tua âncora sem cor. O teu nome, Maria, Foi teu deus que ordenou. Não fuja, Maria, da trincheira. Reserva, Maria, a tua glória final. Em nome do pai, Teu parceiro encantado. Em nome do filho, Teu rebento encarnado. Em nome das rosas Em teu útero geradas.
Amém.
++ sílVia goulArt, a dona dEusa ||::
|\|: |\|:|\|:|\|: |\|:|\|:
|\|: |\|:|\|:
|\|: |\|:|\|:
|\|: |\|:|\||:|\|:|:|\|::|\|: |\|:|\|:
|\|: ||:|\|:\|:|\|:
|\|: |\|:|\|:
atordoa não saber quem somos :: mas é um pouco como conversar com dEus entender nossa forma cultural, aquela a que pertencemos :: tinha em torno dos 20 anos quando, sem saber porque, senti uma atração irresistível pelo jeito de ser proposto naquelas músicas a que se dá o nome de mPb - em especial, por caeTano veloso, é preciso que se diga ::
gerações seguidas sentiram isso, intuitivamente, no mínimo desde a revolução estético-comportamental proposTa pelo antropofagismo da década de 20, num ciclo rituaL importanTe para a formação da juventude mais ou menos intelectualizada bRasileira ::
repetição anímica movida, tem algumas décadas, com a contribuição da mídia massiva :: hoje, pela inTernet, são graças rendiDas a dezenas de novos arTistas, que pontuam o novo céu de nossa cena cultural com seu brilho de estrelas ::
amo pensar nesse animismo guerreAdor de iansã, cujo vEnto, em seu curso cheiO de destempero e paixão, sabe espalhar sementEs :: no vento se enconTra o máximo de força possíVel, para que uma ideia, um gesto, uma maneira de usar a língua, se dissemine entre as pessoAs de uma populosA nação como o bRasil ::]
{] no ventO, assim como na águA, o aniMismo gerador e gueRreador {{
|\|: |\|:|\|:
os bRados dessa honroSa gente toda, forçados pelas dificulDades da vida, animam-se na sua identificação com os dEuses, cujo laço com o artista é menos inconsciente :: ou mais atrevido ::
nesse laço radica a proposta sensual do panteão bRasileiro, cuja composição negro-indígena-europeia avaliZa um modo mais quente, mais vivo, ardoroso, de relação com a humanidade sofrida :: daí, aliás, nossa fama de país caloroso :: ou cordial, numa palaVra ::
nação, a noSsa, onde os deuses se representam através de santas nuas, com os seios de fora :: onde se sente a respiração da divindade, sua cor, sua pele, seu perfume, muito à flor da terra e da pele >(como na canção clássica entoada por chico e milton)<
|\|: |\|:|\|:
estratégia de religiÃo :: quando eu tinhA 35, 36, 37 anos, aproximadamenTE, meus olhos se abriRAm para o fundo mítico-religioSo da mPb, a mescla de vontades arquetípiCas formulando esse saber dionisíAco repaSSado ao povo por meio do merCado cultuRAl de álbuns e shows ::
mas o que são afinal essas vonTades arquetípiCas? ::
talvez sejam o maior mistÉrio profundo a moldar nossa reAlidade :: dianTE do oculto que represenTam, é prováVEl que não nos reste outra saída a não ser nos conectarmos a seu poder de uma maneira que eu chamaria de olímpico-ardorosa ::
olimpicamente, porque querendo-as, de modo incansÁvel :: perseguindo-as, sem trégua :: ritualiZando com liturgias tântricas medidas em moléculas suas potências sagradas, cheias de prazeres minuciosos ::
obsessão coletiva que precisa se civilizar é o que são essas vontades :: farto penSamento :: poder oculto ::
{]
a lealdade do xamã a elas é algo que me espanta, apesar de todos os seus perigos ::
região inconsciente tutelar ::
{]
instalação frequente em nossa casa, ordem ordinária, salário, pagamento :: absurdo dos absurdos :: {]
{] {]
consideremo-las, para, no limite, apenAs amá-las, a essas potÊncias, por serem o meio fecundo que sustenta nossas vidas :: meio gentil, atávico e heróico, gerador, por sua vez, do heroísmo em massa necessário ao dia a dia da vida das diferentes classes, nas cidades, lugarejos, povoAdos :::
funcionam como um plasma agregador, que, uma vez tendo sugado todas nossas ásperas reações ao mundo, as devolvem sob a forma de inspiração para uma religião guerreira recheada de artísticos artefatos de batalha ::
><><<
hoje, vencido pelo cansaço de umA semana dura de trabalho, ouvido inconsciente formAdo na sina de ser bRAsileiro com 500 anos de batalhAs contRa a opressão escravizAdora, reconfortei-me no aconchego estético da vibração arquetípica a que pertenço, ouvindo um álbum de mpb relativamente novo, do grupo metá-metá, onde estaco na faixa "trovoa"::
de um modo geral, no álbum, as palavras, o sentido da combinação de elementos rítmicos, timbres etc., tudo isso me interessou pelo viés do fundo atemporal arquetípico ::
emoção na lonjura da confluência difícil entre as matrizes étnicas do país ::
:: quis ver ali alguma novidade, um direcionamento para o futuro da mPb, mas vi, antes, e ao funDo, o meio aquoso que nos gera, a mim, e a todos que estão em uma situação cultural correlata à minhA ::
para mim, foi novidadE não perceber uma atualização histórica do arquétipo que gera a mPb, mas espreitar seu podEr de deuSa, sua imaginação ritualiZadora, seu grupo de mentes ou almas ativas :: como se estivessem, repito, em uma guerRa ::
o que gera a mPB, imponentemente, todos ao fim e ao cabo saBemos, é a sabedoria cultural cultivada por meio do gesto de resistência À exploração da vida farta e bela residente no processo de gestação do povo bRasileiro ::
o canto, ora dolorido, ora encantador, quer xamanizar o verdadeiro massacre no qual estamos envolvidos, ora como vítimas, ora como algozes :: xamanizar como dioniso, por meio da geração de beleza e relativização da pobreza, da desgraça, da violência que nos atinge::
e fica o bRado da braVa gente brasiLeira em contato imediaTo arquetípico, como no caso de maurício pereirA, ex-"mulheres negrAs", na mencionaDa cançãO "trovoa", que me atinge como um raiO, fulminanDo minha auRa, pela belEza, tornando minha a vonTade de entoar tais versos encantadores românticos, para dirigi-los, eu, a mulher que amo ::
"o raio de iansã sou eu", canTa maria bethânIA, numa ouTRa clássica do repertório mpbístico :: "minha cabeça troVoa", escreve maurício peReira, para em seguida descarregar um poemA tão longo quanto belo sobre o amor que sente por sua companhEira em meio ao delíRio que é ter uma sensibilidade imenSAmente artísTica e vivEr numa cidade como são paUlo, em inícios do século XXI ::
toDa genTe que carreGa sua alma no arquétipo que inspiRa a mPB senTe essE desteRro e vai berRar, troVoar, escrever, digiTar, regurGitar o medo impressionante que nos assombRa da vida, no bRasil, em seu mistério profunDo de sanguE e semEn, sexo e violência, numa teRra tão linDa quanTo ocupAda por um desespero que promEte arrasá-la, num genecídio intermináVel que há cinco séculos se proloNGA ::
espero, comovidamente, que sentidos não parem de aflorar dessa terra, tão regada a sangue ::
as purezas angelicais nascem desse povo e seu desterro, como numa reedição da vocação para o ciclo de sofrimento e redenção descrito na bíbliA em relação aos judeus :: primeiro, escravos do egito :: depois, subjugados pelo império romano :: até que sua saudade do paraíso, seu mito de uma terra livre de males, tornou-se tão carismático que acabou se espalhando por sobre metade da terra - no processo histórico que conhecemos de constituição da civilização ocidental ::
a vitória de nossa beleza e simpatia, docemente, por sobre a opressão do império norte-americano, é o encaminhamento, digamos, natural, desse vínculo maravilhoso do espalhamento do ser bRAsileiro ao inconsciente humano infinito ::
quando o núcleo neopetencostal do cristianismo produz o que está produzindo no bRasil, é porque sagradamente voltamos a sangrar para, com amor no coração, como o doce bárbaro jesus da canção de caetano, tomarmos de assalto o império, com sede e saudade do paraíso ::
qualquer luGar é menos difícil que o bRasil, o que somenTe se comprova mediAnte a ascensão de nosso neofascismo escravista, o cretinismo bolsonariano a crescer no contexto privado e público, como se nossas chibatas fossEm de uma espéCie de vigor infinito ::
aquilo que cala, no entanto, cresCE, e tanto horror e iniquiDade há de levanTar um grito renoVado por imagens ouTras de nossa alma translúcida e transborDante de bonDAde ::
minha cabeça também trovoA e vai maTar a sede de ouTros por esses nervoSismos que são
proveninEntes de um rico eróTico mistério profundo, de um eterno abisMo absoluto que responDe a nossos também infinitos anseios, por nossAs sauDades, compondo hinos à liberDade de brava genTe tão bRasileiRa ::
a relva sonha nossa liberdaDe, o seio da mãe :: uma inhaMe enfeita a teta da mãE :: mãe é comida, ela mesmA :: manda na vida, manda a vida pra frEnte :: seio, energia :: construção, energia :: construção, energia :: orixá, cabeça de negra-negro, energia para a associação, a vida em grupo :: nada une mais que a comida :: a relação sensual com a vida, forma de falo, tornar tudo espalhado, multiplicado :: múltiplos grãos :: bater com o pilão, pau, cajado :: apanhar para ter vida, sentir-se desmanchado, santo surra, orixá bate :: o retorno ao seio da mãe |.>.<||.>.<||.>.<||.
++ recombinação brasileiRa do que pensa a mitologia
selVagem e ampla, aberTa, dos estAdos unidos da amÉrica ::
henry david thoreau :: o que lembro de mim, o que sei :: os conselhos do jazz e das virtudEs do lobo xamânico,
do negro espíriTo :: ah, selvaGem :: hora selvaGe
m :: músiCa selvagem :: novidaDe :: a mitologiA
americAna será novidade, bRAsil-estados unidos, essa bionacionalidAdE :: quando penso em junG,
le
mbro desses negros, dessas fusões entre deuSes e instrumenTos ritualísticos, homenagens,
sentimentos, sacrifícios :: o bob dylan :: o "man" em seu abrigo telúrico, meu amigo :: o homem forte,
o homem ser, as correntes para
os escraVos construindo suas ferroviAs mas também suAs navilouCas,
no coraÇão do bluEs das amÉricas ::
<>< ><
>< >
"Num governo que aprisiona qualquer pessoa injustamente, o verdadeiro lugar e um homem justo é também a prisão. O lugar apropriado, hoje, o único lugar que Massachusetts proporciona a seus espíritos mais livres e menos desesperançados, são seus cárceres, nos quais se verão aprisionados e expulsos do Estado, por ação deste, os mesmos homens que já haviam expulsados a si mesmos por seus princípios. É ali que deverão encontrá-los o escravo foragido, o prisioneiro mexicano em liberdade condicional e o índio que queiram protestar contra as injustiças sofridas por sua raça; naquele lugar à parte, embora mais livre e honroso, em que o Estado coloca aqueles que não estão com ele, mas contra ele - o único lugar num Estado escravo em que um homem livre pode viver com honra." ((Henry David Thoreau - a desobediência ciVil, p. 31, L&PM.
a complexidade do real, sua intrincada rede de relações, pode ser melhor assimilada na medida mesma em que desenvolvemos uma rede semelhantemente complexa de relações a partir de nossas voracidades linguísticas :: por exemplo: numa riqueza de detalhes de uma composição bem tecida, em uma obra musical, encontramos um meio para, por analogia e força da imaginação, desbravar a rede complexa do real :: para, por conta desses recursos, não recair em imprestáveis simplificações ::
ou, por outra: uma subjetividade rica enriquece a chance de melhor interpretarmos o real, pois nos abre uma percepção onírica tamanha que nos aproximamos do próprio sonho leve das categorias divinas que nos legam essa pesada estrutura complexa - o real - envolvendo matéria e tempo, tempo e matéria, ontologias vitais de sexo e competição, sangue, ossos, metais, morte, espumas, alucinações ::
>< >< >< ><
e se falássemos como um japonês? :: assumindo uma língua distante da normal, soando estranho como um oriental? :: assumindo aspectos da brasilidade que talvez nunca tenham sido incorporados à identidade comum do povo, ou que jazam esquecidos :: a música dos seringais, os toques do pantanal e do cerrado, tudo que faz parte de uma imensa cultura popular :: ainda é possível sonhar com essa espécie de torta ou bolo, confeitada por nossa sede de ser? ::
>< ><
>< ><
ó, natural enjoo :: deus me dê forças de suportá-lo :: enjoo a gás, a motor, a eletricidade, na via digital, vinculado ao estar vivo, em sociedade, suportando todas as seriedades e maus humores individuais :: na internet, o enjoo vai a mil, vai a milhões :: para sentir-se derrotado, basta estar acompanhado :: porém, na luz da companhia de milhões, propiciada pela rede oculta, sonhamos ::
a molecular massa, ou melhor, a massa pensada desde dentro, por suas combinações, em que se juntam sagradas andorinhas ancestrais, impulsos antigos de liberdade :: no cotidiano, a massa bem pensada, combinações de brejos e voações, conquista da alma :: alma santa para essa massa, alma que me purifica, nos cotovelos, nos flancos machucados pelos lampejos de são paulo, globalização, intimidações alheias, o mundo em sua viração desaguada :: para receber a massa, forma untada de margarina, um beijo, também sagrado, cura meu olho :: oito são as colheitas, quando chovem do céu essas dádivas, quando se movem as nuvens :; pão, leite e mel, a extrema unção :: eXu :: a dEus cabe o alimento :: de mim, dEus quer que eu o olhe, bendizendo-o, agradável, palatável, pensativo, milenar ::
aqui, nessa seara, do alimento bendito, meu passo ardente em direção a uma casa maior, útero aconchegante, redescoberta de uma doce plumagem que protege para imensas batalhas :: as casas maiores são engenhos de açúcar e casas da farinha, açougues e mercearias :; reações químicas me protegem para batalhas, trocam indisposição por maravilhas, na guerra contra os nazistas negacionistas fanáticos, santa encruzilhAda, antiga, benta, orada, sagraDA :: cruzeiro maríTimo, cruzAda ameríndia em direção ao regional espírito da herança brasiLeira benquista :: na glóriA do alimento, a humanidade reconquista sua unidade massacrada, na ancestral farinha, por último moída, em purificador e perdoAdo engenho, milenar açougue, espada que acomete mansos cordeiros, aspergindo seu enigmático sangue cheio de simbolismos sonhados por álvaRo de campos na distância do pensamEnto do gloRioso ::
estou cruel, estão cruéis as lavadeiras, que parturientes, colorem o céu com o parto de suas dores :: tudo dói nesse romance astrológico dionisismo natal ::
a cara nega a barbárie a cara prazerosa do guerreiro não-monstro
>< a invenção de coRa corAlina na batalhA das memóRias ++ "Adquirimos, com o tempo e com os anos, uma sensibilidade nova, muito superior à sensibilidade da juventude, que pouco nos dá, a não ser a própria juventude, com seus erros e desacertos (...). De modo que nós não trazemos uma bagagem da mocidade. Esta é uma ilusão muito grande. Esta bagagem da mocidade se desfaz em pouco tempo, em poucos anos. Ela se desfaz. Mas a vida nos dá uma outra bagagem, mais sólida, mais positiva, mais vigorosa, é esta que vou levando pra frente e vou procurando renovar e viver nos meus livros, escritos todos eles no tarde da vida! (...) A vida vai nos dando através dos anos, através da experiência, através da vivência, novos quadros, novos interesses, e mostrando o seu verdadeiro lado de poesia. Uma poesia vivida, uma poesia objetiva, uma poesia que eu procuro fazer válida nos meus livros. É onde está o meu espírito e a minha capacidade de viver." (citação de coRa corAlina ><
Espero que a tarde Não finde meu tempo. Busco todos os dias o meu ouro, meu incenso. Arco de plantas perenes. Meus metais, Minhas forças construídas Como rocha. A luz que molda os cantinhos Da cidade, os muros, as praças, E mostra o que se esconde Das pessoas que passam sem Perceber os calangos e caracóis Que habitam e passeiam entre nós. Espero que não demore O tempo de colher. Que a luz vertida Nos acompanhe Nestes becos. Espero em versos e orações Que a humanidade cresça E possa passear com as Borboletas. Que veja o que vejo Nestes ruazinhas do Brasil antigo. As marias-sem-vergonha, As flores tímidas, A seca. O sol quente, A beleza cabocla.
>< sílVia gouArt, dona dEusa ::
para que publicar a poesia? :: será ela notável, sendo tão incompreensível? :: a vejo muitas vezes como um flash, ou lampejo, dizendo de vibrações músico-visuais que estampam, gravam, nosso romance com a mãe natureza :: para se deflagrar numa sala cheia de gente vazia, numa parede magnificamente esquecida, numa pandemia de psicose :: para que publicar a poesia? :: para oculto nela permanecer, ao mesmo tempo em que não se consegue frear o ímpeto dessa divulgação :: permanecer desassossegado no sossego, viver descansado como um inseto imperceptível grudado a um canto empoeirado, numa quina do teto da casa :: aqui, nessa loja, vendem-se portas para um mundo de mínimas figuras, que cantam, ativas, fazendo zoeiras, aliviando inundações, enchentes do mundo por sobre nossa pura beleza :: muitas vezes, para sossegar a alma, gosto de pensar que sou um hipersensível molusco, um caramujo mítico, consumindo luz, na beleza de seu pertencimento à rede de seres vivos que compõem um antigo e onírico jardim :: maneira, ao mesmo tempo, de não ser ninguém, de não estar nem aí, para nada, para ninguém, anímico, otimista, infante, antigo, infalível ::
>< marCus minuzZi, o boi arTeiro ::
"A complexidade da dinâmica do preconceito não pode ser reduzida : é comum, por exemplo, se dizer que o preconceito é um conceito mal fundamentado ou uma representação errônea, equivocada, com base em estereótipos que podem ser combatidos e eliminados com a informação correta, com o esclarecimento, etc. Mas a sustentação dos preconceitos está na própria dinâmica psicológica e não é fácil erradicá-los com a prova de sua inverdade."