A natureza é generosa e espontânea. Precisamos aprender a cultivar o ato singelo de doar-se, tal como essa grande mãe.
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Somos medo. Alguma coisa nos amplia se somos a sensualidade que amplia o medo. A sensualidade ativa em nós, viva em nós, como em todo instante. Como todo o instante.
Já reparou como nossa experiência social é de uma profunda densidade desagregadora? Profundidade talvez somente comparável ao sentido da vergonha humana que se perpetua pela existência inevitável do pecado capital?
Parece que, na vida, obrigatoriamente social, as vozes, semblantes, vontades alheias, nos tiram do eixo.
A vida acompanhada, assim, nesses termos, pode-se dizer que é sub-repticiamente perturbadora, um problema, até certo ponto escandaloso, envolvendo toques, aspectos, de invasão, de roubo. De uma certa histeria.
E, apesar da penosa profundidade disso a que pretendo me referir, pode-se captar sua existência em situações cotidianas aparentemente banais - como estacionar mal o carro.
Outro dia fui fazê-lo, encontrar uma vaga. E não me restou outra opção que não fosse recorrer à famigerada baliza, quando é preciso manobrar bastante para encaixar nosso veículo, apertadamente, entre outros dois veículos.
Existe experiência social que nos faça tremer mais, exagerando um pouco?
Somos medo.
A baliza é uma espécie de teste social por excelência, entre outros tantos, pois amplia nosso medo, tudo o que formos fazer ali é alvo em potencial de alguma reação alheia.
Sendo essas reações sensualidades, posto que disputas de vocações, poderes, mesquinhos interesses que dão prazer. Guerra microscópica e obscuramente amorosa.
Desde a possibilidade de um arranhão no seu carro, e nos demais veículos à volta, até o horror de congestionarmos o trânsito, em um horário de pique, passando, evidentemente, pelo vexame que tudo isso implica.
Qualquer erro aí remete-nos a essas obscuridades alheias à nossa vontade pessoal..
Na vida social, tudo é teatro, tudo é representação. E quanto menos der errado, melhor.
No trânsito, e na baliza em especial, uma série de habilidades são requisitadas. E desenvolvê-las com maestria nos faz articular o medo a novas realidades psíquicas.
Deslizamos então pelo caminho pedregoso da reprovação e da rejeição. Atingimos o nível mais alto da sensação de sermos heróis, pois nenhuma força oculta, interna ou externa, no constrange.
O que é profundo, o medo provocado pela baliza, faz com que vençamos a partir de forças também retiradas da profundezas.
JONGO
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Deixem-me rezar um pouco aqui.
Meus ninhos caboclos cheios de soluções anímicas para os respeitáveis medos ocultos em inúmeros detalhes da vida nas brasileiras cidades.
Horrores que ativam molhadas perfeições, no inconsciente.
Se isso se torna reconhecível, e, ó, como é difícil reconhecê-lo, passamos a honrar, então, os massacres típicos do cotidiano, que nos ampliam ampliando nosso medo, e que nos fazem alcançar, com nossas mãos, as mãos estendidas de entidades agregadoras do panteão coletivo nacional.
Nossas donzelas loucas e úmidas. Nossos personagens satíricos que trazem alívio ao desespero. nEgra escuridão alcançada.
A realidade brasileira sempre foi magnificamente trágica. A começar pelos sucessivos anos de escravidão e atraso, onde se escondem potencialidades desagregadoras que nos ativam medos ao horror óbvio de estar com a vida sob constante ameaça.
Nesse processo de dissolução por vezes da mais básica segurança existencial surgem, são avistadas, as vagas limítrofes com lembranças do tempo onírico ancestral mais perfeito que possa existir.
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<<Quero crer que assim seja o caso da baliza.>> Na verdade, muitas outras partes do cotidiano comportam tamanha dramaticidade.
Me ocorre elencar ainda, se bem que menos banal, o difícil artifício, imagino que conquistado a duras pena, de equilibrar-se sobre uma prancha de surf.
Não deve ser algo simples, posto que de uma tensão permanente.
Na vontade implícita do quem pratica um esporte como o surf está a necessidade de atrair atravessados olhares de admiração, pelo incomum e admirável dessa habilidade, nascida com quem a desenvolve, de orientar forças arredias. Isso atrai olhares sujos de admiração, densos de inveja e de repentina vontade de destruição.
Habilidades sociais atraem forças. Habilidades sociais tem essas coisas, mesquinhas.
Atrás de todo atirador da inveja vem um poder de ampliar medos, que é sacro, no sentido anímico das bolinhas, bolinhas como objetos, que escrevem douros.
Há poderes ocultos na inveja, que relacionam a átrios específicos, sacrificiais, onde o rolar de todas as cabeças é poderoso sacramento coletivo, misturando sêmen e sangue, pertencimento a um espaço solar de vinte horas ativas, que nos devolvem ao mundo avantajados.
Amor. Amor e ódio.
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Quando eu era crime, eu via a noiva, eu a cobiçava, com inveja, todo o estar da invasão e do roubo e do sair-se reforçado.
E no rolar da indiscrição, descubro que amo aquele que me inveja, por ter amado a sua inveja, que me fez sonhar tanto.
Que me fez gozar tanto, em uma profusão de pancadas que sempre amei receber, sendo que, por recebê-las, empreendo ter conquistado a coerência do mundo.
Quando a voz me abre no segundo ativo, absurdo, da cidade, estou iluminado, por estar enlameado.
Eu sou um rolar dessas coisas pias. Eu visto a carapuça de santo. Eu penso com a morte em meu pescoço.
Saiam, escondidas, as raças que escondem esses pensamentos, o fluxo do tesão entre a cópula e a degola, o instinto de vida e o instinto de morte, como diz fReud.
já oUtros dizem exU.
laroiê, legbá.
exu carnaVal. exu perfeito draMa.
unS dizem tanta coisa. outros não dizem nada....
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Não é outra conclusão a que posso chegar quando penso nos deslizes de uma onda neofascista que tomou conta de nosso país.
A vida vai rolar. Inconscientemente, acho que atraímos esses dramas, sob tais tensas expectativas, que reforçam o andor da nação, carregando suas divindades absurdas, psicóticas, esquizofrênicas.
Dramas de um realismo fantástico. Apologia às deusas e deuses de tudo, exu barbaridade, com comida, axé e pÃo.
Ninguém sabe a razão do neopentecostalismo fantástico. Eu sei. E é isso que falo, para não ser ouvido, e merecer ser esquecido, como amplo repente da memória absuRDa do mundo. Ortodoxia do absurdo, ativismo inconsciente. Atabaque que nos costure contente.
Será que luLa não foi alvo de toda essa inveja, enquanto dirigia o carro, para estacioná-lo em uma vaga complicada, enquanto domava a impossível onda?
E bRizolA? E getúLio?
Como resultado, temos o golpe que nos leva às profundezas do ser brasIleiro.
laroiê, legbá.
eXu canta a gira.
ontologicamente, em português misturado a iorubá, nos dirigimos assim, diante das voltas que o mundo dá, à gira solar do senhor do labirinto chamAdo bRasil.
conceito nativo gostosamente forjado pelo amor ao bRasil, suas receitas de sensualidaDe africana ampliadoRas do incomum incesto, com gosto de fruTas nativas.
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arTE <>< ::chick corEA
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"Sobre o pai, Antonio-Rey, Artaud disse: 'Vivi até os vinte e sete anos
com ódio obscuro do Pai, do Meu pai particular. Até o dia em que o vi falecer. Então esse rigor desumano, com que eu o acusava, me oprimia, cedeu.
Deste corpo saiu outro ser. E, pela primeira vez na vida, esse pai me
estendeu os braços. E eu, que estou atormentado por meu corpo, compreendi que ele havia estado toda vida atormentado por seu corpo e que
há uma mentira do ser contra a qual nascemos para protestar'. Édipo
acorrentado..."
>< antoNIn arTAud: o artesÃo do corPo sem órgãos ::++
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