é pedra, é pedra, é muita pedreira :: o bRasil não foge à regra de qualquer país da amÉrica latina, sendo talvez uma espécie de carro-chefe da região, em termos de destino espinhoso, obstáculos, grandes dificuldades a serem vencidas ::
ora, nossa base é, como no resto da américa, a abissilidade da escravidão, seu aspecto profundo e, por que não dizer, inesgotável ::
não acaba, não acaba nunca :: estar aqui, vivo, é manter-se atado aos esquemas de um imperialismo nórdico que sobrevive, e se reconstrói :: a par disso tudo, eu sou feliz :: "tô sonhando, mas eu sou feliz", ensina um samba gravado por beth carvalho ::
a reflexão, aliás, vem por conta desse samba, que ouço distraidamente, por acaso, na fila do pão, enquanto trabalho, no chuveiro, no ônibus, colado a meu aspecto mediúnico, indígena, candomblecista ::
tô sonhando, mas eu tô feliz :: e o moleque se arruma e vai engraxar sapatos ou vender chicletes, enquanto samba :: é o nosso destino, enquanto a bandeira brasileira, hoje bastante gasta mas verdejante, é hasteada no cabo de uma vassoura, de um esfregão, de um cabo eletrônico de uma lan house de bairro ::
tô sonhando, mas eu tô feliz :: o que arlindo cruz, um dos compositores do samba, ensina, é que sem a sabedoria ancestral da cabeça distinta brasileira aqui formada, forjada por séculos de ansiedade escrava e trabalhadora, mais escrava do que trabalhadora, não tem como prosseguir em frente, pois é muito pedreira :: a pedra sagrada, de certo modo, que não nos atormenta, porque somos mais que astronautas navegadores, somos a boa nova da civilização ocidental ::
e a vida dá voltas, e essa verdade volta, como um bebê ocidental jogado em nosso colo :: é a nossa identidade :: caetano veloso está quase completando 80 anos :: essa foi a primeira e mais forte verdade que vislumbrou em seus desvios poéticos, na distante década de 60 do século XX :: mas que o visita sempre e novamente :: a ponto de gravar em seu último disco, "meu coco", que "sem samba não dá" ::
é a mesma coisa :: tô sonhando mas eu sou feliz :: o bRasil não se escreve com tinta, mas com sangue e essas alegrias intensas das etnias de marginais que não se contentam com a alegria do básico alegre sangue ocidental europeu ::
há uma larga avenida que nos apascenta, como no antro dos carnavalescos em seus recitais de úmida visita ao mito ativo nosso brasílico :: e eu sou paz para o planeta, quando nisso ancora minhas esperanças dionisíacas e orientais ::