++ percepção lentamente valorizada do amor brasileiro agreste <:> rito ovariano onírico e negro :x: paixão e sociabilidade dionisíacas comungadas por dona deuSa (sílvia goulart) e o boi arteiRo (marcus minuzzi) <:> a verdade xamânIca da guerra apruma nossas corações antigos e dispostos a tudo contra o fascismo :x: poemas, análises, amores pictografados <:> elegia ao sertão artístico :x:

terça-feira, 14 de julho de 2020

hiNOs





Súbita rainha.
Maria de Deus,
Maria das dores,
Maria das honras,
Maria das mães.
Maria das graças,
Maria das pretas,
Maria dos famintos.
Marias somos.
De todos os filhos e filhas,
De todos os calvários,
De todos os ventres.
Livrai-nos, senhor,
De todos os maus agouros.
De toda sorte de padecimento junto ao pé do Criador.
Acaricia meu pequenino rosto de menina,
Veja onde a sua graça me tocou.

Mariazinhas...
Enfeitadas de graças,
Enfeitadas de carne,
Enfeitadas de flor.
Enfeitadas de espinhos,
Enfeitadas de cruz,
Enfeitadas de dor.
A hora do amor,
A hora profunda da dor...
Filhos pari,
Amores perdi.
Meu corpo secou.
Maria, levanta,
A cruzada apenas começou.
Maria da força,
Maria da caça.
Maria, acorda.
Tua força,
Teu pulso leviano,
Tua âncora sem cor.
O teu nome, Maria,
Foi teu deus que ordenou.
Não fuja, Maria, da trincheira.
Reserva, Maria, a tua glória final.
Em nome do pai,
Teu parceiro encantado.
Em nome do filho,
Teu rebento encarnado.
Em nome das rosas
Em teu útero geradas.

Amém.

++ sílVia goulArt, a dona dEusa ||::




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atordoa não saber quem somos :: mas é um pouco como conversar com dEus entender nossa forma cultural, aquela a  que pertencemos  ::  tinha em torno dos 20 anos quando, sem saber porque, senti uma atração irresistível pelo jeito de ser proposto naquelas músicas a que se dá o nome de mPb - em especial, por caeTano veloso, é preciso que se diga ::

gerações seguidas sentiram isso, intuitivamente, no mínimo desde a revolução estético-comportamental proposTa pelo antropofagismo da década de 20, num ciclo rituaL importanTe para a formação da juventude mais ou menos intelectualizada bRasileira ::

repetição anímica movida, tem algumas décadas, com a contribuição da mídia massiva :: hoje, pela inTernet, são graças rendiDas a dezenas de novos arTistas, que pontuam o novo céu de nossa cena cultural com seu brilho de estrelas ::

amo pensar nesse animismo guerreAdor de iansã, cujo vEnto, em seu curso cheiO de destempero e paixão, sabe espalhar sementEs :: no vento se enconTra o máximo de força possíVel, para que uma ideia, um gesto, uma maneira de usar a língua, se dissemine  entre as pessoAs de uma populosA nação como o bRasil ::]

{] no ventO, assim como na águA, o aniMismo gerador e gueRreador {{

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os bRados dessa honroSa gente toda, forçados pelas dificulDades da vida, animam-se na sua identificação com os dEuses, cujo laço com o artista é menos inconsciente :: ou mais atrevido ::
nesse laço radica a proposta sensual do panteão bRasileiro, cuja composição negro-indígena-europeia avaliZa um modo mais quente, mais vivo, ardoroso, de relação com a humanidade sofrida :: daí, aliás, nossa fama de país caloroso :: ou cordial, numa palaVra ::

nação, a noSsa, onde os deuses se representam através de santas nuas, com os seios de fora :: onde se sente a respiração da divindade, sua cor, sua pele, seu perfume, muito à flor da terra e da pele >(como na canção clássica entoada por chico e milton)<

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estratégia de religiÃo :: quando eu tinhA 35, 36, 37 anos, aproximadamenTE, meus olhos se abriRAm para o fundo mítico-religioSo da mPb, a mescla de vontades arquetípiCas formulando esse saber dionisíAco repaSSado ao povo por meio do merCado cultuRAl de álbuns e shows ::
mas o que são afinal essas vonTades arquetípiCas? ::

talvez sejam o maior mistÉrio profundo a moldar nossa reAlidade :: dianTE do oculto que represenTam, é prováVEl que não nos reste outra saída a não ser nos conectarmos a seu poder de uma maneira que eu chamaria de olímpico-ardorosa ::

olimpicamente, porque querendo-as, de modo incansÁvel :: perseguindo-as, sem trégua :: ritualiZando com liturgias tântricas medidas em moléculas  suas potências sagradas, cheias de prazeres minuciosos ::

obsessão coletiva que precisa se civilizar é o que são essas vontades :: farto penSamento :: poder oculto ::

{]

a lealdade do xamã a elas é algo que me espanta, apesar de todos os seus perigos  ::
região inconsciente tutelar ::

{]

instalação frequente em nossa casa, ordem ordinária, salário, pagamento :: absurdo dos absurdos :: {]

{] {]
consideremo-las, para, no limite, apenAs amá-las, a essas potÊncias, por serem o meio fecundo que sustenta nossas vidas :: meio gentil, atávico e heróico, gerador, por sua vez, do heroísmo em massa necessário ao dia a dia da vida das diferentes classes, nas cidades, lugarejos, povoAdos   :::
funcionam como um plasma agregador, que, uma vez tendo sugado todas nossas ásperas reações ao mundo, as devolvem sob a forma de inspiração para uma religião guerreira recheada de artísticos artefatos de batalha ::

><><<
hoje, vencido pelo cansaço de umA semana dura de trabalho, ouvido inconsciente formAdo na sina de ser bRAsileiro com 500 anos de batalhAs contRa a opressão escravizAdora, reconfortei-me no aconchego estético da vibração arquetípica a que pertenço, ouvindo um álbum de mpb relativamente novo, do grupo metá-metá, onde estaco na faixa "trovoa"::

de um modo geral, no álbum, as palavras, o sentido da combinação de elementos rítmicos, timbres etc., tudo isso me interessou pelo viés do fundo atemporal arquetípico ::

emoção na lonjura da confluência difícil  entre as matrizes étnicas do país ::

:: quis ver ali alguma novidade, um direcionamento para o futuro da mPb, mas vi, antes, e ao funDo, o meio aquoso que nos gera, a mim, e a todos que estão em uma situação cultural correlata à minhA ::

para mim, foi novidadE não perceber uma atualização histórica do arquétipo que gera a mPb, mas espreitar seu podEr de deuSa, sua imaginação ritualiZadora, seu grupo de mentes ou almas ativas :: como se estivessem, repito, em uma guerRa ::

o que gera a mPB, imponentemente, todos ao fim e ao cabo saBemos, é a sabedoria cultural cultivada por meio do gesto de resistência À exploração da vida farta e bela residente no processo de gestação do povo bRasileiro ::




o canto, ora dolorido, ora encantador, quer xamanizar o verdadeiro massacre no qual estamos envolvidos, ora como vítimas, ora como algozes :: xamanizar como dioniso, por meio da geração de beleza e relativização da pobreza, da desgraça, da violência que nos atinge::

e fica o bRado da braVa gente brasiLeira em contato imediaTo arquetípico, como no caso de maurício pereirA, ex-"mulheres negrAs", na mencionaDa cançãO "trovoa", que me atinge como um raiO, fulminanDo minha auRa, pela belEza, tornando minha a vonTade de entoar tais versos encantadores românticos,  para dirigi-los, eu, a mulher que amo ::

"o raio de iansã sou eu", canTa maria bethânIA, numa ouTRa clássica do repertório mpbístico :: "minha cabeça troVoa", escreve maurício peReira, para em seguida descarregar um poemA tão longo quanto belo sobre o amor que sente por sua companhEira em meio ao delíRio que é ter uma sensibilidade imenSAmente artísTica e vivEr numa cidade como são paUlo, em inícios do século XXI ::

toDa genTe que carreGa sua alma no arquétipo que inspiRa a mPB senTe essE desteRro e vai berRar, troVoar, escrever, digiTar, regurGitar o medo impressionante que nos assombRa da vida, no bRasil, em seu mistério profunDo de sanguE e semEn, sexo e violência, numa teRra tão linDa quanTo ocupAda por um desespero que promEte arrasá-la, num genecídio intermináVel que há cinco séculos se proloNGA ::

espero, comovidamente, que sentidos não parem de aflorar dessa terra, tão regada a sangue ::
as purezas angelicais nascem desse povo e seu desterro, como numa reedição da vocação para o ciclo de sofrimento e redenção descrito na bíbliA em relação aos judeus :: primeiro, escravos do egito :: depois, subjugados pelo império romano :: até que sua saudade do paraíso, seu mito de uma terra livre de males,  tornou-se tão carismático que acabou se espalhando por sobre metade da terra - no processo histórico que conhecemos de constituição da civilização ocidental ::

a vitória de nossa beleza e simpatia, docemente, por sobre a opressão do império norte-americano, é o encaminhamento, digamos, natural, desse vínculo maravilhoso do espalhamento do ser bRAsileiro ao inconsciente humano infinito ::

quando o núcleo neopetencostal do cristianismo produz o que está produzindo no bRasil, é porque sagradamente voltamos a sangrar para, com amor no coração, como o doce bárbaro jesus da  canção de caetano, tomarmos de assalto o império, com sede e saudade do paraíso ::

qualquer luGar é menos difícil que o bRasil, o que somenTe se comprova mediAnte a ascensão de nosso neofascismo escravista, o cretinismo bolsonariano a crescer no contexto privado e público, como se nossas chibatas fossEm de uma espéCie de vigor infinito ::

aquilo que cala, no entanto, cresCE, e tanto horror e iniquiDade há de levanTar um grito renoVado por imagens ouTras de nossa alma translúcida e transborDante de bonDAde ::

minha cabeça também trovoA e vai maTar a sede de ouTros por esses nervoSismos que são
proveninEntes de um rico eróTico mistério profundo, de um eterno abisMo absoluto que responDe a nossos também infinitos anseios, por nossAs sauDades, compondo hinos à liberDade de brava genTe tão bRasileiRa ::


++ marcus minuzZi, o boi arTeiro ||::


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