Súbita rainha.
Maria de Deus,
Maria das dores,
Maria das honras,
Maria das mães.
Maria das graças,
Maria das pretas,
Maria dos famintos.
Marias somos.
De todos os filhos e filhas,
De todos os calvários,
De todos os ventres.
Livrai-nos, senhor,
De todos os maus agouros.
De toda sorte de padecimento junto ao pé do Criador.
Acaricia meu pequenino rosto de menina,
Veja onde a sua graça me tocou.
Mariazinhas...
Enfeitadas de graças,
Enfeitadas de carne,
Enfeitadas de flor.
Enfeitadas de espinhos,
Enfeitadas de cruz,
Enfeitadas de dor.
A hora do amor,
A hora profunda da dor...
Filhos pari,
Amores perdi.
Meu corpo secou.
Maria, levanta,
A cruzada apenas começou.
Maria da força,
Maria da caça.
Maria, acorda.
Tua força,
Teu pulso leviano,
Tua âncora sem cor.
O teu nome, Maria,
Foi teu deus que ordenou.
Não fuja, Maria, da trincheira.
Reserva, Maria, a tua glória final.
Em nome do pai,
Teu parceiro encantado.
Em nome do filho,
Teu rebento encarnado.
Em nome das rosas
Em teu útero geradas.
Amém.
++ sílVia goulArt, a dona dEusa ||::
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atordoa não saber quem somos :: mas é um pouco como conversar com dEus entender nossa forma cultural, aquela a que pertencemos :: tinha em torno dos 20 anos quando, sem saber porque, senti uma atração irresistível pelo jeito de ser proposto naquelas músicas a que se dá o nome de mPb - em especial, por caeTano veloso, é preciso que se diga ::
gerações seguidas sentiram isso, intuitivamente, no mínimo desde a revolução estético-comportamental proposTa pelo antropofagismo da década de 20, num ciclo rituaL importanTe para a formação da juventude mais ou menos intelectualizada bRasileira ::
repetição anímica movida, tem algumas décadas, com a contribuição da mídia massiva :: hoje, pela inTernet, são graças rendiDas a dezenas de novos arTistas, que pontuam o novo céu de nossa cena cultural com seu brilho de estrelas ::
amo pensar nesse animismo guerreAdor de iansã, cujo vEnto, em seu curso cheiO de destempero e paixão, sabe espalhar sementEs :: no vento se enconTra o máximo de força possíVel, para que uma ideia, um gesto, uma maneira de usar a língua, se dissemine entre as pessoAs de uma populosA nação como o bRasil ::]
{] no ventO, assim como na águA, o aniMismo gerador e gueRreador {{
|\|: |\|:|\|:
os bRados dessa honroSa gente toda, forçados pelas dificulDades da vida, animam-se na sua identificação com os dEuses, cujo laço com o artista é menos inconsciente :: ou mais atrevido ::
nesse laço radica a proposta sensual do panteão bRasileiro, cuja composição negro-indígena-europeia avaliZa um modo mais quente, mais vivo, ardoroso, de relação com a humanidade sofrida :: daí, aliás, nossa fama de país caloroso :: ou cordial, numa palaVra ::
nação, a noSsa, onde os deuses se representam através de santas nuas, com os seios de fora :: onde se sente a respiração da divindade, sua cor, sua pele, seu perfume, muito à flor da terra e da pele >(como na canção clássica entoada por chico e milton)<
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estratégia de religiÃo :: quando eu tinhA 35, 36, 37 anos, aproximadamenTE, meus olhos se abriRAm para o fundo mítico-religioSo da mPb, a mescla de vontades arquetípiCas formulando esse saber dionisíAco repaSSado ao povo por meio do merCado cultuRAl de álbuns e shows ::
mas o que são afinal essas vonTades arquetípiCas? ::
talvez sejam o maior mistÉrio profundo a moldar nossa reAlidade :: dianTE do oculto que represenTam, é prováVEl que não nos reste outra saída a não ser nos conectarmos a seu poder de uma maneira que eu chamaria de olímpico-ardorosa ::
olimpicamente, porque querendo-as, de modo incansÁvel :: perseguindo-as, sem trégua :: ritualiZando com liturgias tântricas medidas em moléculas suas potências sagradas, cheias de prazeres minuciosos ::
obsessão coletiva que precisa se civilizar é o que são essas vontades :: farto penSamento :: poder oculto ::
{]
a lealdade do xamã a elas é algo que me espanta, apesar de todos os seus perigos ::
região inconsciente tutelar ::
{]
instalação frequente em nossa casa, ordem ordinária, salário, pagamento :: absurdo dos absurdos :: {]
{] {]
consideremo-las, para, no limite, apenAs amá-las, a essas potÊncias, por serem o meio fecundo que sustenta nossas vidas :: meio gentil, atávico e heróico, gerador, por sua vez, do heroísmo em massa necessário ao dia a dia da vida das diferentes classes, nas cidades, lugarejos, povoAdos :::
funcionam como um plasma agregador, que, uma vez tendo sugado todas nossas ásperas reações ao mundo, as devolvem sob a forma de inspiração para uma religião guerreira recheada de artísticos artefatos de batalha ::
><><<
hoje, vencido pelo cansaço de umA semana dura de trabalho, ouvido inconsciente formAdo na sina de ser bRAsileiro com 500 anos de batalhAs contRa a opressão escravizAdora, reconfortei-me no aconchego estético da vibração arquetípica a que pertenço, ouvindo um álbum de mpb relativamente novo, do grupo metá-metá, onde estaco na faixa "trovoa"::
de um modo geral, no álbum, as palavras, o sentido da combinação de elementos rítmicos, timbres etc., tudo isso me interessou pelo viés do fundo atemporal arquetípico ::
emoção na lonjura da confluência difícil entre as matrizes étnicas do país ::
:: quis ver ali alguma novidade, um direcionamento para o futuro da mPb, mas vi, antes, e ao funDo, o meio aquoso que nos gera, a mim, e a todos que estão em uma situação cultural correlata à minhA ::
para mim, foi novidadE não perceber uma atualização histórica do arquétipo que gera a mPb, mas espreitar seu podEr de deuSa, sua imaginação ritualiZadora, seu grupo de mentes ou almas ativas :: como se estivessem, repito, em uma guerRa ::
o que gera a mPB, imponentemente, todos ao fim e ao cabo saBemos, é a sabedoria cultural cultivada por meio do gesto de resistência À exploração da vida farta e bela residente no processo de gestação do povo bRasileiro ::
gerações seguidas sentiram isso, intuitivamente, no mínimo desde a revolução estético-comportamental proposTa pelo antropofagismo da década de 20, num ciclo rituaL importanTe para a formação da juventude mais ou menos intelectualizada bRasileira ::
repetição anímica movida, tem algumas décadas, com a contribuição da mídia massiva :: hoje, pela inTernet, são graças rendiDas a dezenas de novos arTistas, que pontuam o novo céu de nossa cena cultural com seu brilho de estrelas ::
amo pensar nesse animismo guerreAdor de iansã, cujo vEnto, em seu curso cheiO de destempero e paixão, sabe espalhar sementEs :: no vento se enconTra o máximo de força possíVel, para que uma ideia, um gesto, uma maneira de usar a língua, se dissemine entre as pessoAs de uma populosA nação como o bRasil ::]
{] no ventO, assim como na águA, o aniMismo gerador e gueRreador {{
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os bRados dessa honroSa gente toda, forçados pelas dificulDades da vida, animam-se na sua identificação com os dEuses, cujo laço com o artista é menos inconsciente :: ou mais atrevido ::
nesse laço radica a proposta sensual do panteão bRasileiro, cuja composição negro-indígena-europeia avaliZa um modo mais quente, mais vivo, ardoroso, de relação com a humanidade sofrida :: daí, aliás, nossa fama de país caloroso :: ou cordial, numa palaVra ::
nação, a noSsa, onde os deuses se representam através de santas nuas, com os seios de fora :: onde se sente a respiração da divindade, sua cor, sua pele, seu perfume, muito à flor da terra e da pele >(como na canção clássica entoada por chico e milton)<
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estratégia de religiÃo :: quando eu tinhA 35, 36, 37 anos, aproximadamenTE, meus olhos se abriRAm para o fundo mítico-religioSo da mPb, a mescla de vontades arquetípiCas formulando esse saber dionisíAco repaSSado ao povo por meio do merCado cultuRAl de álbuns e shows ::
mas o que são afinal essas vonTades arquetípiCas? ::
talvez sejam o maior mistÉrio profundo a moldar nossa reAlidade :: dianTE do oculto que represenTam, é prováVEl que não nos reste outra saída a não ser nos conectarmos a seu poder de uma maneira que eu chamaria de olímpico-ardorosa ::
olimpicamente, porque querendo-as, de modo incansÁvel :: perseguindo-as, sem trégua :: ritualiZando com liturgias tântricas medidas em moléculas suas potências sagradas, cheias de prazeres minuciosos ::
obsessão coletiva que precisa se civilizar é o que são essas vontades :: farto penSamento :: poder oculto ::
{]
a lealdade do xamã a elas é algo que me espanta, apesar de todos os seus perigos ::
região inconsciente tutelar ::
{]
instalação frequente em nossa casa, ordem ordinária, salário, pagamento :: absurdo dos absurdos :: {]
{] {]
consideremo-las, para, no limite, apenAs amá-las, a essas potÊncias, por serem o meio fecundo que sustenta nossas vidas :: meio gentil, atávico e heróico, gerador, por sua vez, do heroísmo em massa necessário ao dia a dia da vida das diferentes classes, nas cidades, lugarejos, povoAdos :::
funcionam como um plasma agregador, que, uma vez tendo sugado todas nossas ásperas reações ao mundo, as devolvem sob a forma de inspiração para uma religião guerreira recheada de artísticos artefatos de batalha ::
><><<
hoje, vencido pelo cansaço de umA semana dura de trabalho, ouvido inconsciente formAdo na sina de ser bRAsileiro com 500 anos de batalhAs contRa a opressão escravizAdora, reconfortei-me no aconchego estético da vibração arquetípica a que pertenço, ouvindo um álbum de mpb relativamente novo, do grupo metá-metá, onde estaco na faixa "trovoa"::
de um modo geral, no álbum, as palavras, o sentido da combinação de elementos rítmicos, timbres etc., tudo isso me interessou pelo viés do fundo atemporal arquetípico ::
emoção na lonjura da confluência difícil entre as matrizes étnicas do país ::
:: quis ver ali alguma novidade, um direcionamento para o futuro da mPb, mas vi, antes, e ao funDo, o meio aquoso que nos gera, a mim, e a todos que estão em uma situação cultural correlata à minhA ::
para mim, foi novidadE não perceber uma atualização histórica do arquétipo que gera a mPb, mas espreitar seu podEr de deuSa, sua imaginação ritualiZadora, seu grupo de mentes ou almas ativas :: como se estivessem, repito, em uma guerRa ::
o que gera a mPB, imponentemente, todos ao fim e ao cabo saBemos, é a sabedoria cultural cultivada por meio do gesto de resistência À exploração da vida farta e bela residente no processo de gestação do povo bRasileiro ::
o canto, ora dolorido, ora encantador, quer xamanizar o verdadeiro massacre no qual estamos envolvidos, ora como vítimas, ora como algozes :: xamanizar como dioniso, por meio da geração de beleza e relativização da pobreza, da desgraça, da violência que nos atinge::
e fica o bRado da braVa gente brasiLeira em contato imediaTo arquetípico, como no caso de maurício pereirA, ex-"mulheres negrAs", na mencionaDa cançãO "trovoa", que me atinge como um raiO, fulminanDo minha auRa, pela belEza, tornando minha a vonTade de entoar tais versos encantadores românticos, para dirigi-los, eu, a mulher que amo ::
"o raio de iansã sou eu", canTa maria bethânIA, numa ouTRa clássica do repertório mpbístico :: "minha cabeça troVoa", escreve maurício peReira, para em seguida descarregar um poemA tão longo quanto belo sobre o amor que sente por sua companhEira em meio ao delíRio que é ter uma sensibilidade imenSAmente artísTica e vivEr numa cidade como são paUlo, em inícios do século XXI ::
toDa genTe que carreGa sua alma no arquétipo que inspiRa a mPB senTe essE desteRro e vai berRar, troVoar, escrever, digiTar, regurGitar o medo impressionante que nos assombRa da vida, no bRasil, em seu mistério profunDo de sanguE e semEn, sexo e violência, numa teRra tão linDa quanTo ocupAda por um desespero que promEte arrasá-la, num genecídio intermináVel que há cinco séculos se proloNGA ::
espero, comovidamente, que sentidos não parem de aflorar dessa terra, tão regada a sangue ::
as purezas angelicais nascem desse povo e seu desterro, como numa reedição da vocação para o ciclo de sofrimento e redenção descrito na bíbliA em relação aos judeus :: primeiro, escravos do egito :: depois, subjugados pelo império romano :: até que sua saudade do paraíso, seu mito de uma terra livre de males, tornou-se tão carismático que acabou se espalhando por sobre metade da terra - no processo histórico que conhecemos de constituição da civilização ocidental ::
a vitória de nossa beleza e simpatia, docemente, por sobre a opressão do império norte-americano, é o encaminhamento, digamos, natural, desse vínculo maravilhoso do espalhamento do ser bRAsileiro ao inconsciente humano infinito ::
quando o núcleo neopetencostal do cristianismo produz o que está produzindo no bRasil, é porque sagradamente voltamos a sangrar para, com amor no coração, como o doce bárbaro jesus da canção de caetano, tomarmos de assalto o império, com sede e saudade do paraíso ::
qualquer luGar é menos difícil que o bRasil, o que somenTe se comprova mediAnte a ascensão de nosso neofascismo escravista, o cretinismo bolsonariano a crescer no contexto privado e público, como se nossas chibatas fossEm de uma espéCie de vigor infinito ::
aquilo que cala, no entanto, cresCE, e tanto horror e iniquiDade há de levanTar um grito renoVado por imagens ouTras de nossa alma translúcida e transborDante de bonDAde ::
minha cabeça também trovoA e vai maTar a sede de ouTros por esses nervoSismos que são
proveninEntes de um rico eróTico mistério profundo, de um eterno abisMo absoluto que responDe a nossos também infinitos anseios, por nossAs sauDades, compondo hinos à liberDade de brava genTe tão bRasileiRa ::
++ marcus minuzZi, o boi arTeiro ||::
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