++ percepção lentamente valorizada do amor brasileiro agreste <:> rito ovariano onírico e negro :x: paixão e sociabilidade dionisíacas comungadas por dona deuSa (sílvia goulart) e o boi arteiRo (marcus minuzzi) <:> a verdade xamânIca da guerra apruma nossas corações antigos e dispostos a tudo contra o fascismo :x: poemas, análises, amores pictografados <:> elegia ao sertão artístico :x:

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

antediluViano



trabalho com as linhas de um poema antediluviano, cheio de graça e arpejo, como a sonoridade de véus e confeitos, a robustez de um ninho de lendas, minuciosas, colar de bruxas, despedidas, saudades, sofrimentos ::

uma tule rose bebê me envolve, é meu alívio-emblema-placenta :: pandeiros, balas de mel e de coco, sabedoria antiga, ovariana, paciente como a mão que desenvolve bordados, a iemanjá que mostra seu peito e esse peito é meu amoroso amigo, meu mistério recheado de frutos e conchas ::






Sábia passarinha,
Onde vais com tuas graças?
A coroa, onda vaporosa e úmida
Que te cobre,
Lembra o Olimpo de prata,
Onda sonora.
Há música em teus ramos.
Iluminas a perfeição
Com teu vento.
Multiplicas versos.
A sabedoria poética
Que te cabe
Floresce e brota em tua
Copa.
Ó árvore nua,
Feminina andorinha,
Gentileza sábia de
Meu Deus.
Causa contida,
Teus cocares,
Tuas contas
Espalhadas,
Bicos maternos,
Anseios de mãe.
Floresta antiga.
Mata virgem.
És a amazônica porção
Do Brasil.
És ave bendita,
O que transforma
Tudo.
És o que não sabes,
Nem procuras ser.
Traço escolhido em sonhos.
Tua face espelha o logos
De Maria.
Ovários perdidos em teu
Cérebro governam o mundo.
Ó incessante busca de liberdade.
A mulher carrega a flor,
Nem anjo, nem bruta.
Quando pariu,
Nem sabia da dor.
Há uma estrela em teu olhar,
Seiva que molha teus filhos.
Benta rosa escolhida,
Ocultas o segredo
Maior.
A mulher não cabe
No espaço.
Espalha, ramifica,
Cresce e ordena.
Submete-se,
Dissimulada,
Envolve e
Mata.







terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

o diA em que rezei com eDir maCedo



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O dia mais importante de minha vida foi aquele em que meu fervor religioso se uniu ao do próprio bispo Edir Macedo e, junto com ele, dirigi uma prece aos céus.

Não é brincadeira. Esse dia existiu. E se não foi efetivamente o mais importante de meu fado enquanto cidadão brasileiro, casado, jornalista, porto-alegrense, pai de família, foi um dos que nunca esquecerei.

Foi nele que tomei tento da extrema gravidade da questão cultural. Falo em "questão cultural" para me referir ao dificílimo problema da alteridade, ou seja, as imensas guerras que surgem por conta da famigerada diferença (seja ela racial, de classe, de gênero, étnica, religiosa etc.).

Pra quem não sabe, sou aventurosamente religioso. Ou, mais exatamente: me embrenho, desde mais ou menos os 30 anos de idade, pela selva pode-se dizer pedregosa do misticismo brasileiro, em sua mistura de elementos europeus, indígenas e africanos. 

Em função disso, ritualizo a maior parte de meus momentos, como forma de amor e união com essa rica base de realização psicológica e espiritual.

O plano do ritual é que nos leva a um sonhar acordado, divino, intuitivamente distante do medo. Nos direciona para bem longe do medo de amar.

Nos desloca para um afeto semelhante ao de quando éramos meninos e meninas, temo em que nossa segurança no mundo ainda não havia sido prejudicada pela dimensão trágica da existência.

Nesse dia inesquecível de que falo, era um domingo, e no meio de minha ritualização que me levara à sempre penumbrosa região do inconsciente, não lembro bem, mas acho que liguei por acaso a televisão.

Estava no canal do Edir Macedo. E ali o bispo dirigia palavras ao deus de sua religião.

E eu, pleno de ritual, tinha à minha frente uma visão ampliada, em direção a esses espaços magníficos, onde o uno é indivisível, onde não há a menor chance de nos indispormos com aquilo que é diferente de nós mesmos.

E então rezei com o polêmico fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Fiquei impressionadíssimo com tal resultado, pois o senso de união brotara espontaneamente, fazendo com que me vertessem lágrimas aos olhos.

Edir Macedo navega também pelo mar do inconsciente, que eu sei. Sua igreja bem lotada, no entanto, desperta inúmeras desconfianças.

Não sei se há um sabor de guerra santa no Brasil atual, em que o neopentecostalismo é uma viva realidade.

Mas, para avaliadores culturais como eu, que buscam a miscigenação pela mistura de amplas de possibilidades do ser, Edir Macedo é uma presença, digamos assim, difícil de ser engolida.

Porém, quando viro criança de novo, resgato a esperança perdida de paz. Essa esperança como que reside em um fundo de mar. É preciso nadar contra poderosas correntes para se chegar até ela.

É preciso encontrar frutas miúdas, com sabor silvestre, para que nos lembremos da manhã do mundo. Para que recuperemos a força mágica da noção de paraíso.



O mito da mistura racial no país é como nessa intenção navegadora, descobridora. Quando nadamos no mar do inconsciente, sem cansaço, via de regra nos encontramos com as encantadas noções de cordialidade.

Redescobrimos um ninho, um útero, onde se aconchegam umas nas outras crianças representantes de nossa variedade multiétnica.

Temos então a impagável chance de trazer para mais perto da realidade cotidiana um mito, o próprio mito da cordialidade brasileira. Nele, todos amam ser apenas uma única coisa, o próprio Brasil.

É ali que ocorre a presença de símbolos nada bélicos - a Coroa de Cristo, o Cristo Redentor, o Carnaval, a própria cidade do Rio de Janeiro -, que agravam o medo de sermos a nação destinada ao tom da mistura.

É grave, muito grave, o mugido épico do mundo, sua plena potencialidade de dores.

Há um poema do Drummond que aborda essa cruz a ser carregada. Chama-se "A máquina do mundo" e fala da dificuldade de se encarar, com cuidado, a realidade do mito.

"A máquina do mundo se entreabriu", escreveu Drummond, "para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia."

Quando dei por mim, o rezar juntos - eu e Edir Macedo - representava uma chance de se chegar à paz somente alcançada mediante uma viagem transcendente bastante rara. Basicamente uma epifania.

E só de pensar nessa vasta região existencial, turbulenta, a ser dominada, meu medo e meu cansaço eram maior que tudo.

Como, afinal, singrar o oceano de significados culturais que nos separa da possibilidade de um Brasil unido? Como restabelecer a paz nesse país conflagrado?

A permanência do nazismo, a facilitação atual de sua face, quando ninguém mais a esperava, faz parte de tal  poderosa máquina do mundo que, por ser tão complexa, raramente se dá por compreendida.

E meu choro com Edir Macedo ilumina um meandro difícil dessa maravilhosa imaginação. Oxalá pudéssemos alcançá-la mais comumente, pois com certeza muito sangue mulato deixaria de ser derramado.

Novos mundos nascem quando navegamos para além da maldita divergência. É alvissareiro acordar com esses sonhos irrompendo a consciência.

O Brasil precisa voltar a sonhar com o mito de sua cordialidade urgentemente. Há um legado cultural consolidado ao longo das últimas décadas que não pode ser desprezado.

Antes, deve ser a base de uma sonhadora missão artística. Tudo aquilo que alimentaram e alimentam os profetas de nossa identidade (nomes que vão de Caetano Veloso a Oscar Niemeyer, de Tomás Antônio Gonzaga a Darcy Ribeiro, de Arthur Bispo do Rosário a Cora Coralina).

Aquilo que o mundo sabe de nós - que somos alegres e hospitaleiros - não é uma mentira. É uma importante e custosa revelação cultural.

É um forma generosa de humanidade, afirmada a partir de um inconsciente coletivo sempre em ebulição, como promessa para o Ocidente.

Isso mesmo, deve-se sonhar grande, deve-se sonhar com a imensidão de uma identidade acima do que já foi experimentado, em termos civilizacionais.

Afinal, sonhos, sonhos são, como escreveu Chico Buarque. Afinal, como afirmou um dos maiores poetas da língua portuguesa, estamos longe, muito longe, de possuirmos uma alma pequena.

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++ marcus, o bOi arTEiro </>/

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"É precisamente neste sentido que numa última fase da prosa pessoana que aborda a questão do destino nacional o principal objectivo que parece reger os projectos de livros de Pessoa é o da criação das condições necessárias que permitam a transformação do Portugal real nesse desejado Quinto Império. 
><::>><>::<<>
Esta seria pelo menos uma das consequências do processo de auto-proclamação por parte de Pessoa como homem de génio, pois se os seus objectivos fossem alcançados seria precisamente na medida em que as condições necessárias para a concretização do Quinto Império teriam sido cumpridas, sendo a sua função a de reconhecer estas condições e responder a elas: (...)" 

++ URIBE, Jorge; SEPÚLVEDA, Pedro. 
o nacionalismo pessoano à luz 
de um novo corpus). >//<

o amoR alimenTA o poeMa

1. A moça comigo brinca na relva. Estou bento iluminado  Com o membro  Amando tesouros míticos. O segredo é peniano. Ora a moça numinosa. A ...

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